"Mas não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir" - Engenheiros do Hawaii
Garganta fechada, narinas entupidas, olhos vermelhos e
doloridos. Não, não estou doente. Estou chorando. E falando nisso, não sei o
motivo ao certo. Mas tudo o que vem acontecendo contribuiu para isso. Como uma
gota a mais faz um copo cheio transbordar.
Nunca fui muito de chorar, embora admita que certas dores saram mais
rápido se acompanhadas por uma bela noite de choro. Ops. Acho que me expressei
mal. Como uma noite de lágrimas pode ser bela assim? Ficar com o aspecto de
doente não é nada atrativo. Eu sei bem disso. Sempre tento controlar essas
crises de sentimentos. Não é legal ver alguém chorando. Nunca sabemos o que
dizer, pelo menos algo que não soe piegas.
Então, aqui estou. Sentada no chão do meu quarto, com a
camiseta encharcada enquanto espero as vozes se acalmarem na sala. Ou o meu
coração voltar ao tamanho real. Porque tudo precisa ser tão complicado?
- Liyzie, venha. – diz a mulher que costumava ser a minha
mãe do batente da porta.
Como sempre, obedeço. Encontro-me parada entre as duas pessoas.
Pressinto que não gostarei da notícia que os meus pais me darão.
- Como você sabe, -começa meu pai- nós nunca chegamos a um
acordo sobre nada referente a você. Bem, isso não foi diferente. Nós dois não
queremos abrir mão de estar contigo, querida, por isso achamos melhor que você
vá para uma cidade na metade da distância entre as nossas. Assim você pode
alternar no seu tempo vago.
-E nós também poderemos visitá-la sempre- completou minha
mãe.
Aquele sorriso acolhedor que me lançou não surtiu o efeito
desejado. Essa é realmente uma péssima notícia. Não pelo fato deles me mandarem
para uma cidade estranha sozinha, mas por eles terem concordado nisso. Talvez
estejam me tirando de suas vidas. Afinal eu sou a pedra no sapato deles. Quem
sabe se não foi por minha causa que eles se separaram. Ou talvez tenha sido
porque eles não deram certo mesmo. Tão diferentes...
- E então? O que você nos diz?- quer saber meu pai.
Sei que não adianta falar nada. Porque discutir se nunca me
ouvem? Minha vida está uma bagunça e não tenho o poder de arrumá-la. Então
balanço a bandeira branca ao dizer:
- Ok.
E mesmo com os olhos ardendo em um misto de raiva e dor,
olho para eles naquele momento. Afinal eu os amo. E isso pode mudar, assim como
eu estou. Dou um pequeno sorriso e saio da sala. Preciso de um pouco de ar.
Na varanda percebo que tudo o que eu entendia por minha vida está sendo alterado. E eu não
tenho tempo de aproveitar o que ainda me resta e lamentar pelo que não terei.
Por isso, concentro-me na primeira ideia: tenho que aproveitar
essas últimas três semanas que me restam aqui para rever algumas histórias. Uma
vez que não posso começar do zero em outro lugar sem por um ponto-final aqui. E
é certo que tenho alguns porquês ainda sem resposta. Mas isso é uma questão de
tempo, não é mesmo?